MA Mundo Agrario, diciembre 2024 - marzo 2025, vol. 25, núm. 60, e258. ISSN 1515-5994
Universidad Nacional de La Plata
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación
Centro de Historia Argentina y Americana

Artículos

Quintais socioprodutivos da Ilha de Caratateua, Belém (PA): entre reconfigurações e valorização de identidades

Ruan Rodrigo de Oliveira Pinheiro

Bacharel Faculdade de Desenvolvimento Rural, Universidade Federal do Pará, Brasil
Monique Medeiros

Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas, Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares, Universidade Federal do Pará, Brasil
Cita sugerida: Pinheiro, R. R. O. y Medeiros, M. (2024). Quintais socioprodutivos da Ilha de Caratateua, Belém (PA): entre reconfigurações e valorização de identidades. Mundo Agrario, 25(60), e258. https://doi.org/10.24215/15155994e258

Resumo: Este artigo objetiva analisar as transformações físicas na configuração dos quintais socioprodutivos que fizeram parte do projeto “Roteiro de Memória” (R.M.) do Ecomuseu da Amazônia, na Ilha de Caratateua, Belém, PA, em 2019/2020. Este objetivo está atrelado a uma reflexão analítica ampla que visa evidenciar a importância, socioeconômica e cultural, dos quintais socioprodutivos em Belém. Além de revelar estes espaços como estratégicos à resiliência de distintas famílias amazônicas em face á contextos contemporâneos de crise, como a pandêmica. Os dados que fundamentaram a análise foram construídos por meio da pesquisa bibliográfica, observações participantes e entrevistas direcionadas a quatro famílias locais que possuem quintais socioprodutivos e que estiveram envolvidas no referido projeto. Por meio da pesquisa realizada, foi possível compreender que a emergência de inserção das famílias no R.M propiciou aos seus quintais transformações relacionadas ao melhoramento nas estruturas físicas do espaço. Consequentemente, houve valorização dos quintais, economica e socioculturalmente.

Palavras-chave: Quintais agroflorestais, Ilha de Caratateua, Ecomuseu da Amazônia.

Socio-productive Quintais on Caratateua Island, Belém (PA): between reconfigurations and the valorization of identities

Abstract: This article aims to analyze the physical transformations in the configuration of the socio-productive backyards that were part of the "Memory Route" (R.M.) project of the Ecomuseum of the Amazon, on Caratateua Island, Belém, PA, in 2019/2020. This objective is linked to a broad analytical reflection that aims to highlight the socio-economic and cultural importance of socio-productive backyards in Belém. In addition to revealing these spaces as strategic to the resilience of different Amazonian families in the face of contemporary crisis contexts, such as the pandemic. The data on which the analysis was based was constructed through bibliographical research, participant observations and interviews with four local families who have socio-productive backyards and who were involved in the project. Through the research carried out, it was possible to understand that the emergence of the families' inclusion in the R.M. led to transformations in their backyards related to improvements in the physical structures of the space. As a result, the backyards were valued economically and socio-culturally.

Keywords: Agroforestry farms, Caratateua Island, Ecomuseu da Amazônia.

Introdução

O Ecomuseu é um programa, fundado em 2007, sob a gestão da Secretaria Municipal de Educação (SEMEC) da Prefeitura Municipal de Belém (PMB), no Pará, Brasil, com sede no Liceu Escola Mestre Raimundo Cardoso, em Icoaraci. Em 2008, foi transferido para a Fundação Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira (FUNBOSQUE)1 na Ilha de Caratateua, conhecida popularmente como Ilha do Outeiro (Almeida & Martins, 2021; Martins, 2014). O programa compreende um conjunto de projetos, ações e metodologias a serem realizadas junto às comunidades de forma sustentável, visando, inclusive, a geração de renda local (Almeida & Martins, 2021).

Dentre os projetos vinculados ao Ecomuseu da Amazônia, o “Roteiro de Memória” (R.M.) ganha destaque neste artigo, tendo em vista que fomenta o desenvolvimento mediante práticas sustentáveis que visam à valorização dos saberes e fazeres tradicionais2 das comunidades envolvidas, do seu patrimônio natural e cultural, potencializando o desenvolvimento local e a geração de renda.

O projeto R.M. foi idealizado em 2009, e teve sua primeira versão desenvolvida na Ilha de Mosqueiro no mesmo ano. Em 2013, foi executada sua segunda versão na Ilha de Cotijuba, com recursos oriundos de editais destinados à cultura e ao turismo. Nos anos de 2015, 2016 e 2017, o projeto foi desenvolvido em Caratateua como um piloto. E, entre os anos 2019 e 2020, voltou a acontecer, em Caratateua, de forma efetiva com recursos próprios e da Lei Aldir Blanc3, ajudando a fomentar e dar visibilidade aos trabalhos locais e, também, apoiando na geração de renda dos envolvidos no projeto, proporcionando uma transformação para além dos espaços físicos, mas também nas atividades e nas práticas exercidas nos espaços de produção.

O projeto mais recente envolveu nove famílias da Ilha de Caratateua. O propósito cerne desse projeto foi resgatar o saber-fazer produtivo e sociocultural das famílias que habitavam esse território e de ali desenvolver o turismo de base comunitária (TBC). Assim como o TBC, o projeto R.M, de acordo com Almeida e Martins (2021), visa gerar benefícios socioeconômicos, além de poder conciliar com práticas de conservação do ambiente e preservação dos saberes, da cultura e do fazer tradicional.

Os quintais socioprodutivos estão diretamente envolvidos no desenvolvimento do R.M. por serem visualizados, sobretudo pelos atores locais de Caratateua e do Ecomuseu envolvidos no projeto, como, para além de espaços produtivos, lócus de relevância sociocultural. Estes espaços são assim compreendidos porque, majoritariamente, localizados próximos às moradias das famílias, compreendem cultivos de diversas espécies vegetais e criações de animais de pequeno porte, mesclados com artesanato, poesias, contação de histórias, pássaros juninos4, boi bumbás5, carimbó6, diferentes tipos de processos formativos, como, por exemplo: aulas de reforço; educação ambiental; atividades escolares; e reflexões de caráter social (uso das drogas, sexo, violência).

À luz desse contexto, o objetivo central deste artigo é analisar as transformações na configuração, em relação às estruturas físicas e as redes de relações, dos quintais socioprodutivos que fizeram parte da mais recente versão do projeto R.M. do Ecomuseu da Amazônia, na Ilha de Caratateua. Este objetivo está atrelado a uma reflexão mais abrangente, que busca ressaltar a importância dos quintais socioprodutivos em Belém, tanto do ponto de vista socioeconômico quanto cultural.

Com o intuito de apresentar as ideias que compõem essa análise, o artigo foi dividido em quatro partes, para além desta introdução. Na segunda parte discutem-se os procedimentos metodológicos e os principais conceitos mobilizados na investigação e análise, dentre estes últimos, destacam-se os de Sistemas Agroflorestais (SAFs), SAFs na Amazônia, quintais agroflorestais e quintais socioprodutivos. Na terceira parte, são colocadas em evidência as principais transformações nos quintais socioprodutivos decorrentes da inserção dos atores sociais no projeto R.M. Nas considerações finais, por sua vez, ressalta-se a importância do projeto na melhoria dos quintais socioprodutivos, os quais passaram a serem valorizados como espaços de cultura, de saber, de lazer, de histórias afetivas, do misticismo, sobretudo de vida e resistência das famílias, como locais de experimentação que garantem a soberania e segurança alimentar das atuais e futuras gerações.

Aspectos metodológicos da pesquisa

Para compreender as peculiaridades da Ilha de Caratateua, a pesquisa que dá origem a esse artigo se pautou, primeiramente, em pesquisa bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica se deu nas seguintes bases de dados: Google Acadêmico, Periódicos da CAPES, SciELO – Brasil, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e biblioteca do Ecomuseu da Amazônia. Pesquisou-se sobre: sistemas agroflorestais, quintais amazônicos, quintais domésticos, quintais agroflorestais, quintais produtivos, saberes e fazeres tradicionais e aspectos socioeconômicos da Ilha de Caratateua. A pesquisa documental abarcou documentos, como folders, jornais, panfletos e materiais institucionais, disponibilizados pelo Ecomuseu da Amazônia que abordassem o R.M dos anos anteriores.

À luz dos primeiros dados encontrados, foram detectados, ao todo, nove pontos que fizeram parte do R.M. de 2019/2020, são eles: a) Biblioteca Tralhoto Leitor; b) Cordão de Pássaro Colibri do Outeiro; c) Cordão de Pássaro Pipira da Água Boa; d) Folia de Reis; e) Grupo Parafolclórico Tucuxi; f) Casa de Mariana; g) Eco Sítio Vale Verde; h) Sítio da Natureza; e i) Balneário do Tabaco.

Identificou-se que os espaços que fizeram parte do projeto R.M. são reconhecidos como “Pontos de Memória”. A denominação e o reconhecimento são realizados pelo Instituto Brasileiro de Museus – IBRAM. A instituição visa, por meio do reconhecimento de tais pontos, identificar, apoiar e fortalecer iniciativas de memória e museologia social pautadas na gestão participativa e no vínculo com a comunidade e seu território.

Dentre estes nove pontos de memória, foram selecionados quatro para uma análise mais aprofundada (Figura 1) que no mapa aparecem com uma bolinha vermelha circulada em amarelo. Esses pontos foram eleitos por portarem, na época da realização do projeto, quintais socioprodutivos cuja finalidade estivesse articulada aos roteiros de visitação. Dessa forma, quatro famílias, que serão apresentadas mais adiante, foram, então, envolvidas na análise.

FIGURA 1
Mapa de Localização da Ilha de Caratateua – PA, com destaque para os pontos de memória analisados
Mapa  de Localização da Ilha de Caratateua – PA, com destaque para os  pontos de memória analisados
Fonte: Pinheiro, Vieira (2022), base IBGE (2010).

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas com essas famílias em seus espaços socioprodutivos, entre os meses de setembro e dezembro de 2022, e envolveram diretamente os seguintes atores sociais: Raimunda Sandra C. Oliveira, nascida em 06/11/1953; Mary Fernandes da Silva, nascida em 04/08/1960; Oriovaldo Soares Meireles, nascido em 11/10/1942 e Apolo Monteiro Barros, nascido em 11/10/1945.

Além das entrevistas, os interlocutores foram estimulados, de forma participativa, desenharem, juntamente com o primeiro autor desse artigo, um croqui das suas áreas, representando os pontos de memória que contavam com a presença dos quintais, de modo a enfatizar nesses desenhos como era o espaço antes e como ficou depois de sua inserção no projeto R.M.

Na sequência, a observação participante (Minayo, 2014) e a caminhada transversal (Gomes, Souza & Carvalho, 2000), que consiste em percorrer o lote em linhas perpendicular à direção predominante, permitindo uma análise detalhada e mapeando as principais características, recursos naturais, mapeamentos dos espaços. Os registros fotográficos também complementaram na construção dos dados.

Quintais socioprodutivos

Segundo Viana, Dubois e Anderson (1996) os Sistemas Agroflorestais (SAFs) se configuram como combinações de componentes arbóreos e cultivos agrícolas, explorados de maneira simultânea ou em sequência temporal, com alta diversidade de espécies e interações entre estes componentes. Os SAFs amazônicos são uma tentativa de imitar a natureza, procurando manter e preservar a biodiversidade das espécies, assim como promover um complemento de renda familiar para as comunidades locais (Dias et al., 2020). Esses sistemas são frequentes modelos de uso da terra adotado por agricultores familiares amazônicos (Castro et al., 2009). Os quintais socioprodutivos, entendidos como um arranjo de SAF, que popularmente são conhecidos na Amazônia como quintais caseiros, quintais domésticos, pomar caseiro, sítio, terreiro, entre outros (Leeuwen & Gomes, 1995; Rodrigues & Noda, 2015).

Segundo a pesquisa do Instituto Escolhas (2022), os SAFs na região de Belém são caracterizados em dois tipos: continental e insular. Com ênfase na parte insular, encontra-se a Ilha de Caratateua, onde os arranjos de SAFs são localizados em torno das casas. É válido ressaltar que, na Ilha, para além de espaços produtivos de diversidade ambiental, são percebidos também como espaços para reuniões de ação política, de resistência das famílias, atrelados às esferas sociais, culturais, educacionais, de lazer, de encontros, de histórias afetivas que remetem às lembranças de quando criança e, sobretudo, de troca de saberes, reforçando a ideia de serem quintais socioprodutivos.

Quintais socioprodutivos, para Carneiro et al. (2013), são as áreas manejadas, que se localizam, geralmente, no entorno das casas, considerando que são extensões das casas. Já as espécies plantadas nesses espaços, estas possuem relação com o meio social local: vizinhança, parentesco e mercados locais. Para, além disso, o quintal é um local de experimentação, de saber e de fazer, é o laboratório ao ar livre para os moradores, é também um local de reuniões diversas, de festividades, de história e memória, resgata lembranças e sentimentos de experiências vividas ao longo de suas vidas. Esses espaços estão enraizados na memória das famílias como local de acolhimento, de contato com o meio natural, de lazer e descanso.

O quintal é um tipo tradicional, diverso e complexo de SAF, comum nos sistemas de produção das regiões tropicais e subtropicais do mundo, elaborados por agricultores familiares que vivem nas zonas rurais, semiurbanas e urbanas (Sablayrolles & Andrade, 2009). Esses quintais biodiversos são características das populações amazônicas, em especial na Ilha de Caratateua, lócus desta pesquisa, podendo apresentar também uma diversidade de uso, tais como: alimentícias, medicinais, ornamentais, artesanais e ritualísticas.

O Ecomuseu da Amazônia e suas ações na Ilha de Caratateua

O Ecomuseu da Amazônia tem um papel fundamental nas Ilhas de Belém e, em Caratateua, vem impulsionando o desenvolvimento local com diversas ações e projetos, tendo como princípios a sustentabilidade socioambiental, a preservação e recuperação do patrimônio natural e cultural na Amazônia (Almeida & Martins, 2021). Sua área de atuação, inicialmente, abarcava o Distrito de Icoaraci, Ilha de Caratateua, Ilha de Cotijuba e Ilha do Mosqueiro. Mais recentemente, a partir dos anos 2018, acabou por envolver a Ilha do Combú, a Ilha de Paquetá e a Ilha do Jutuba. Estas passaram a serem denominadas como “território museal”, museus ao ar livre, tendo como o seu acervo os bens de valor material (obras de artes, pontos culturais, patrimônios históricos) e imaterial (as configurações dos quintais, as culturas, pontos de memórias, os saberes e fazeres empíricos, as artes diversas, entre outros).

O Ecomuseu age de forma coletiva e interinstitucional sobre os problemas da região e suas comunidades e tem como parâmetros quatro eixos: cidadania; meio ambiente; cultura e turismo (Martins, 2014). No que se refere aos eixos de ação de meio ambiente e de turismo do Ecomuseu, por meio das ações a estes vinculados, os quintais socioprodutivos ganharam um olhar diferenciado, principalmente por parte dos atores locais. Foi no âmbito destes eixos que o Projeto R.M. foi efetivado em 2019/2020, visando aprimorar as práticas e os manejos dos quintais, tendo como foco a gestão do Turismo de Base Comunitária (TBC). Os roteiros turísticos do projeto R.M. da Ilha de Caratateua envolvem a visitação de estudantes, comunitários locais e outros visitantes externos, conduzida pela equipe do Ecomuseu da Amazônia, onde os protagonistas são os donos dos espaços socioprodutivos, visando estimular a afirmação Identitária dos mesmos, assim como a geração de renda (Almeida & Martins, 2021).

A construção dos roteiros se deu pela equipe do Ecomuseu. As famílias locais envolvidas fazem parte do acervo patrimonial do Ecomuseu da Amazônia, que vem sendo construído desde 2009. Estes foram organizados em três momentos distintos, dois no final de 2019 envolvendo os seguintes Pontos de Memória: Sítio da Natureza, Balneário do Tabaco e Biblioteca Tralhoto Leitor; e o outro nos meses iniciais de 2020: a Casa de Mariana.

No geral, os entrevistados responsáveis pelos quatro pontos de memória são idosos, dois homens e duas mulheres, com idades entre 62 e 80 anos, possuem escassa mão–de-obra, o que os leva a buscar, constantemente, a criação de redes de relações diversas, como, por exemplo, com a FUNBOSQUE. Essa Fundação os auxilia, por meio de seus técnicos, na construção de hortas, nas análises de solos, na produção de composto orgânico e nas práticas de manejos referente ao plantio das espécies vegetais. Tais famílias contam também com o respaldo do Ecomuseu da Amazônia, que oferta “Qualificação Profissional” em boas práticas de higiene e manipulação de alimentos, qualidade no atendimento, apresentação patrimonial, atividades culturais, etc. (Almeida & Martins, 2021). Para além desses apoios, vale destacar que a vizinhança e parentes dos condutores desses quintais também se ajudam nas diversas atividades cotidianas que eles exigem. A seguir, serão mais bem apresentados estes pontos de memória.

Casa de mariana: quintal socioprodutivo medicinal

A “mãe Sandra”, como se identifica, reside no bairro da Água Boa há 33 anos, dispõe de um espaço total com área de 840 m², desse reservou dois espaços, um à frente e outro atrás da casa, reconhecidos pela mãe Sandra, como “quintal”. Ao lado da casa encontra-se o barracão e o terreiro da Mariana. É uma Mãe de Santo7 e possui um terreiro de umbanda, onde se reúne com outros religiosos para realizar manifestações de fé. De acordo com Sandra, seu terreiro é um dos primeiros no bairro e sua configuração e cuidados seguem as orientações da Cabocla Mariana. A mãe Sandra é pensionista, recebe ao mês cerca de um salário mínimo8, exerce a profissão de umbandista e, para além dessa condição, se considera “erveira”, devido saber manipular as plantas e criar diversos produtos oriundos destas, inclusive simpatias relacionadas à sua manifestação de fé.

Em seu quintal, costuma cultivar diversas espécies de plantas medicinais e frutíferas, manejadas por ela e seu companheiro, espécies essas usadas nos rituais e cerimônias, bem como para produção de remédios fitoterápicos, de mudas, de arranjos e atrativos. Cultivar essa diversidade de espécies no quintal lhe garante uma autonomia para além da alimentar, pois a possibilita ter também a seu dispor as ervas que utiliza em seus rituais.

No quintal, foram encontradas 12 espécies frutíferas e 20 medicinais. Dentre essas, as principais espécies frutíferas encontradas no quintal foram: Abacate Persea americana Mill, Jenipapo Genipa americana L. e Limão Citrus limon (L.) Burm. F. As principais medicinais foram: Abre Caminho Justicia pectoralis Jacq, Boldo Plectranthus barbatus Andrews, Capim Santo Cymbopogon citratus (DC) Stapf, Chama de Angola Dracena Confeti ou Dracaena godseffiana, Chega-te a Mim Alternanthera bettzickiana (Regel), Comigo Ninguém Pode Dieffenbachia seguine (Jacq.) Schott, Dinheiro em Penca Phyllanthus pulcher Wall ex Müll Arg., Elixir Paregórico Piper callosum Ruiz & Pavon, Erva Cidreira Lippia alba (Mill.) N. E. Br., Espada de São Jorge Dracaena trifasciata (Prain) Mabb, Folha da Fortuna Oxalis triangularis atropurpurea, Pariri Fridericia chica. (Bonpl.) L.G.Lohmann, Pião Roxo Jatropha gossypiifolia L., Pirarucú Kalanchoe pinnata (Lam.)Pers e Tamba Tajá ou Bota Xanthosoma atrovirens Albo-marginatum.

As espécies frutíferas foram cultivadas conforme o gosto alimentar da entrevistada. As espécies medicinais foram cultivadas à luz de sua profissão como umbandista. Com essas espécies, a mãe Sandra faz chás e xaropes para tomar diariamente. Segundo ela, servem tanto para prevenir futuras doenças quanto para manter o corpo e o espírito saudável. Além de preparar diversos produtos fitoterápicos para consumo próprio, também utiliza para doações aos vizinhos e comercialização para o público que frequenta seu espaço.

Seu quintal serve como espaço de ciclagem de ‘energia’ e de nutrientes, tendo em vista que as folhagens, que caem das vegetações, e alguns resíduos orgânicos utilizados na alimentação, são colocados diretamente nas plantas ali dispostas, como forma de enriquecimento de solo. Tal prática é oriunda de conhecimentos tradicionais repassados por seus pais. Nesse mesmo espaço, costuma realizar festas para os "Santos”, como forma de agradecimento pelas bênçãos realizadas ao longo do ano. Nessas festas reúne amigos, parentes, religiosos e vizinhos para confraternizar.

Antes do R.M., o seu espaço se apresentava da seguinte forma: duas casinhas com algumas frutíferas e vegetações de crescimento espontâneo na frente da casa, o terreiro e o barracão ao lado eram pequenos, existiam plantações de bananeiras atrás do barracão, a piscina estava em construção, o canteiro central tinha um pé de jenipapo e um limoeiro e a parte de trás ainda não tinha muitas espécies medicinais. Quando o projeto chegou até o seu ponto de memória, os espaços tiveram significativas modificações para melhorá-los para atender o público que frequentaria, como nota-se nos croquis (Figura 2).

FIGURA 2
Croquis do espaço da Mãe Sandra com o antes e depois da inserção ao R.M.
Croquis  do espaço da Mãe Sandra com o antes e depois da inserção ao R.M.
Fonte: Dados de campo, 2022.Legenda: A) croqui da configuração dos espaços dos anos anteriores à inserção do Ecomuseu da Amazônia; B) croqui da configuração atual dos espaços com a inserção no R.M.

A mãe Sandra, em sua participação no roteiro de 2019/2020, utilizou de suas espécies cultivadas no quintal para produzir mudas, atrativos, banhos e simpatias para ofertar aos visitantes. Dessa experiência, a comercialização de mudas foi algo novo e que, após o roteiro, passou a ser agregado a suas atividades. Os resultados desta inserção no projeto foram significativos, como pode-se verificar no trecho de entrevista da mãe Sandra: “O Roteiro de Memória é uma reativação da cultura do Outeiro, do artesanato, de muita coisa, entendeu? É o cultivo, as plantas, as hortas que têm aqui, então, eu como umbandista, é a renda, traz renda!” (informação verbal).

Atualmente, seu espaço possui a seguinte configuração: dois pontos para alugar; o barracão e o terreiro de umbanda foram ampliados; na frente e atrás da casa, diversas espécies frutíferas e medicinais foram inseridas; o canteiro central foi reestruturado e mais espécies foram incorporadas; a piscina foi finalizada e onde ficava a plantação de bananeira virou uma pracinha. Após sua inserção no projeto, a entrevistada ampliou o barracão, aumentou o acervo de plantas medicinais e envolveu mais pessoas da família na recepção de visitantes.

Compreende-se que este quintal é socioprodutivo porque além de produção de alimento constrói fortes relações estabelecidas com os religiosos e a vizinhança que frequentam o terreiro. O espaço não se restringe à geração de produtos voltados somente ao consumo e a comercialização, é um espaço de acolhimento. A mãe Sandra recebe a todos que a procuram em seu espaço, essa atitude abre margens para criar laços afetivos que geram um retorno bem maior que o econômico, tornando-a uma referência na comunidade.

Sítio da natureza: quintal socioprodutivo pedagógico

A “profª Mary”, como se apresenta, é engenheira agrônoma e atualmente está lecionando na FUNBOSQUE, recebendo, em média, dois salários-mínimos. Chegou à Ilha há 17 anos, é moradora do bairro do Fidelis, onde reside desde 2005. Possui uma área total de 1500m² e, dessa área, uma pequena parte foi destinada à construção da casa e o restante foi transformado em um quintal altamente produtivo, que, segundo Harwood (1986), refere-se a um agroecossistema complexo cuja finalidade cerne é satisfazer as necessidades familiares. Após dois anos de sua chegada à Ilha, começou a introduzir no seu espaço diversas espécies vegetais juntamente com pequenas criações, fazendo evoluir o espaço inicial para o atual complexo quintal produtivo, de onde costuma obter alimentos o ano todo para seu consumo.

No quintal foram encontradas 16 espécies frutíferas, 18 medicinais e 12 hortaliças. Dentre essas, as principais espécies frutíferas encontradas no quintal foram: Açaí Euterpe oleraceae Mart, Bacaba Oenocarpus bacaba Mart, Banana Musa spp, Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.), Goiaba Psidium guajava L., Limão Citrus limon (L.) Burm. F., Mamão Carica papaya L., Manga Mangifera indica L., Murici Byrsonima spp e Pupunha Bactris gasipaes Kunth. As principais medicinais foram: Açafrão Curcuma longa L., Anador Justicia pectoralis Jacq, Boldo Plectranthus barbatus Andrews, Capim Santo Cymbopogon citratus (DC) Stapf, Elixir Paregórico Piper callosum Ruiz & Pavon, Erva Cidreira Lippia alba (Mill.) N. E. Br., Hortelãzinho Mentha X villosa Huds, Ora-pro-nóbis Pereskia aculeata Mill, Pirarucú Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers e Vick Mentha arvensis L. As principais hortaliças foram: Cariru Talinum fruticosum (L.) Juss, Cebolinha Allium fistulosum L., Cheiro Verde Coriandrum sativum L., Chicória Eryngium foetidum L., Couve Folha Brassica oleracea L., Espinafre Spinacia oleracea L., Manjericão Ocimum basilicum L. e Maxixe Cucumis anguria L.

De acordo com profª Mary, é do quintal que ela pode tirar a maioria dos alimentos que consome diariamente, o que também foi percebido nas pesquisas de Moraes et al. (2022) junto à cooperativa D’Irituia no Município de Irituia e Sablayrolles e Andrade (2009) com os ribeirinhos no Rio Tapajós. Segundo os autores, os quintais amazônicos materializam uma tradição em manter uma complexa diversidade de espécies como fonte alimentícia, elaborado por pequenos agricultores vivendo nas zonas rurais, semiurbanas e urbanas, justamente o que acontece com o espaço da interlocutora. É no seu quintal, também, que a profª Mary pode ensinar sobre as diferentes formas de vida que ali existem, como pode-se evidenciar no trecho de entrevista a seguir:

É, este quintal, ele tem pra mim uma importância que eu poderia assim dizer, vital. É porque ele complementa o meu dia a dia, a minha existência. É como se este quintal fizesse parte da casa, a casa se completa com esse quintal. É difícil pensar a casa sem o quintal porque eles estão de alguma forma, interligados. Porque um, vamos dizer, complementa, e é suplemento, do outro. Do quintal vem muito dos alimentos para serem trabalhados na casa. Do quintal vem o alimento da alma, o momento de ali, se acalmar, se equilibrar, se conectar. A gente poderia dizer até algo transcendental que nos deixa... Como dizer? Em equilíbrio, sereno e em paz (informação verbal).

O relato acima, inclusive, dialoga com a pesquisa de Carneiro et al. (2013), a qual evidencia que o quintal se constitui em áreas manejadas em volta da casa, e que esses manejos são feitos consoantes às necessidades e prioridades de seu condutor. As espécies frutíferas foram cultivadas proposital e estrategicamente de modo que permanecessem produtivas o ano todo e que atendessem as necessidades alimentares e que também fossem o desejo, ou gosto alimentar da profª Mary.

No seu espaço, a profª Mary costuma comercializar composto orgânico, biofertilizantes e terra adubada. O composto orgânico é adquirido de um sobrinho para revender; já os biofertilizantes são preparados em baldes de composteira caseira em seu próprio espaço com os resíduos de alimentação e a terra adubada é feita com as folhagens que caem das vegetações, juntamente com terra preta que possui no seu espaço e com os húmus fruto da compostagem feita no quintal.

Aos fundos de seu espaço construiu um galinheiro feito de alvenaria e telas de metal para melhor abrigar suas aves. Possui também um meliponário coletivo construído em uma estrutura de madeira que também serve para guardar ferramentas e vários meliponários individuais distribuídos pelo seu quintal.

As principais criações que se encontram no seu espaço são: galinhas Rhode Island Red e frangos caipirão; e abelhas sem ferrão das espécies uruçu amarela (Melipona rufiventris) e uruçu cinzenta (Melipona fasciculata). A criação das aves serve para o consumo de ovos, porém, ao receber visitas de parentes, costuma sacrificar a quantidade necessária e preparar uma alimentação para eles.

Segundo a entrevistada, a criação de abelhas possui um papel fundamental no seu espaço, que é polinização das espécies vegetais, e como benefício secundário a produção de mel e de própolis, que servem tanto para o consumo quanto para venda. Foi constatado também que existe no quintal quatro jabutis (Geochelone Carbonara), criados apenas para fins didáticos.

Constatou-se que a profª Mary possui hortas em bancadas, nas quais cultiva hortaliças e algumas plantas medicinais, além de bancadas para espécies ornamentais em vasos. As espécies ornamentais além de compor a paisagem do seu quintal, algumas servem para ser comercializadas em pequenos vasos. Conforme a profª Mary, é muito difícil fazer distinções entre as espécies medicinais e hortaliças cultivadas em seu quintal. Para ela existe uma linha tênue entre hortaliças e medicinais, haja vista que o que pode ser medicinal para ela, para outra pessoa pode ser hortaliça ou vice-versa. Essas espécies são tanto para consumo quanto para comercialização. Todos os produtos são comercializados no seu espaço de produção e divulga-os informalmente no tradicional “boca-a-boca” ou em grupos de redes sociais.

FIGURA 3
Croquis do espaço da Profª. Mary com o antes e depois da inserção ao R.M.
Croquis  do espaço da Profª. Mary com o antes e depois da inserção ao R.M.
Fonte: Dados de campo, 2022.Legenda: A) croqui da configuração dos espaços dos anos anteriores à inserção do Ecomuseu da Amazônia; B) croqui da configuração atual dos espaços com a inserção no R.M.

A Profª Mary, no ano de 2019, quando participou do roteiro, teve que se reinventar, como pode-se visualizar nos croquis acima (Figura 3), para melhor receber os visitantes. Sua única fonte de renda, na época, eram as produções do quintal e, para diversificar seu espaço, buscou orientações na Embrapa Amazônia Oriental sobre a criação de abelhas-indígenas, ou sem ferrão, como são conhecidas popularmente, pois já possuía um meliponário com as espécies de abelhas uruçu-cinzenta e uruçu-amarela em minicolônias no quintal.

Anteriormente à inserção no projeto, seu espaço era dividido basicamente em três blocos, o primeiro onde fica a casa com algumas plantas ornamentais em volta, um pequeno canteiro com plantas medicinais e dois meliponários coletivos; o segundo era constituída por diversas frutíferas, que também é o espaço do galinheiro; e o terceiro era um espaço denominado de “área de pasto” onde as aves costumavam se alimentar.

Atualmente, o quintal é dividido em dois grandes blocos. No primeiro onde se localiza a casa, manejou diversas espécies vegetais proporcionando um microclima favorável às plantas e ao seu bem-estar e dos visitantes, inseriu uma pracinha, construiu mais bancadas para as hortaliças, medicinais e ornamentais, criou espaços para os meliponários individuais e melhorou os outros existentes. No segundo, integrou a “área de pastagem”, termo esse utilizado pela profª Mary para descrever uma área que era coberta de capim e vegetações de crescimento espontâneo, onde deixava suas galinhas soltas para “pastar” ao espaço das frutíferas, potencializando-os e planejando inserir novas espécies vegetais com uma inclinação para as plantas alimentícias não convencionais (PANC’s). Os espaços foram planejados de forma que se estabeleçam inter-relações e múltiplas relações entre os diversos componentes existentes no mesmo, para que assim possa conduzir os visitantes de forma que possam compreender, na prática, como essas relações são estabelecidas.

O R.M. foi muito importante no sentido de dar visibilidade ao seu espaço e de poder fazer com que a profª Mary enxergasse novas possibilidades tanto de público visitante quanto de geração de renda. Com sua inserção no projeto, ela pôde ampliar suas redes de relações, angariar recursos e transformar seu espaço. Depois do roteiro, passou a receber com mais frequência os visitantes e, em especial, estudantes de escolas diversas. Esse movimento corrobora as constatações de Amorozo (2002) sobre esses espaços serem perfeitos para que as crianças aprendam diversas formas de conhecimento e práticas que envolvam o meio natural.

No caso do referido quintal, o espaço se tornou especial para a troca de saberes, reuniões ao ar livre e convívio de relações diversas com os estudantes e a comunidade local. Esse é outro aspecto notado na pesquisa de Amorozo (2002), que apresenta que as relações são de fundamental importância para as trocas de informações e saberes, bem como para a disseminação das espécies locais e seus diversos usos. Para além da produção de alimentos, o quintal se transformou em uma sala de aula ao ar livre, produzindo conhecimentos sociais, culturais e ambientais.

Devido ao seu vínculo empregatício com a FUNBOSQUE, e isso lhe garantir uma renda fixa ao mês, a profª Mary está conseguindo investir e aprimorar o seu espaço para melhor receber os visitantes. Em fase de construção nesse quintal, está a “horta sensorial”, na qual a profª. Mary plantou diversas espécies que os estudantes pudessem tocar e observar, cheirar e comer, e depois pudessem descrever com palavras o que viram e sentiram. Atualmente, a área de pastagem foi limpa e nela a entrevistada projeta implantar diversos canteiros de plantas medicinais e plantas alimentícias não convencionais. Em relação às instalações, começou a construir um banheiro, fora da casa, para atender melhor os visitantes.

Esse quintal possui uma peculiaridade que se distingue dos demais, para além de ser transformado para receber visitantes de modo geral, após o R.M. de 2019/2020 foi, estrategicamente, pensado para receber estudantes de forma gratuita, possuindo um caráter educativo importante. As melhorias que estão sendo feitas mostram que além de geração de renda, a profª. Mary busca aperfeiçoar seu espaço para continuar ensinando, mesmo que se aposente de sua profissão.

Balneário do tabaco: quintal recreativo das águas

O Sr. Oriovaldo, popularmente conhecido como Mestre Tabaco é originário da comunidade do Ariri, no município de Colares/PA. Chegou a Icoaraci onde estabeleceu moradia em 1977 e, posteriormente, em 1989, mudou-se para Ilha de Caratateua, para o bairro da Brasília, juntamente com sua esposa e filhos. Ali, adquiriu uma área total de 3596 m². Dessa área, uma pequena parte, no ponto mais alto, foi destinada para construção de sua moradia, o restante para o quintal de forma que priorizasse o balneário e o viveiro de peixes. O Mestre Tabaco os priorizou devido estas serem as fontes de renda mais significativas, entretanto, cultivou algumas espécies frutíferas e medicinais que, de acordo com ele, seriam as espécies que mais gostava de consumir.

Trabalhou por muitos anos como carpinteiro naval, na construção civil e na pesca artesanal, experiências essas que lhe atribuíram talentos para desenvolver belíssimas canoas e afins. Atualmente, está aposentado, recebendo cerca de um salário-mínimo e se considera agricultor familiar9, decorrente do seu modo de vida e de suas raízes do interior na comunidade do Ariri. Quando pequeno, seus pais possuíam roças de mandioca, e o Mestre Tabaco conta que sabia fazer todos os processos envolvidos na produção de farinha. Cresceu e trabalhou por muitos anos na roça antes de vir para Belém à procura de trabalho formal.

Em seu quintal foram encontradas 14 espécies frutíferas e 11 medicinais. Dentre essas, as principais espécies frutíferas encontradas no quintal foram: Açaí Euterpe oleraceae Mart, Banana Musa spp, Buriti Mauritia vinifera Mart, Coco Cocos nucifera L., Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K.Schum, Goiaba Psidium guajava L., Jambo Syzygium malaccense (L.) Merr. & L.M. Perry e Limão Citrus limon (L.) Burm. F. As principais medicinais foram: Capim Santo Cymbopogon citratus (DC) Stapf, Casca Preciosa Aniba canelilla (H.B.K.) Mez, Erva Cidreira Lippia alba (Mill.) N. E. Br., Pariri Fridericia chica. (Bonpl.) L.G.Lohmann ePirarucú Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.

As espécies vegetais cultivadas em seu quintal são para consumo e/ou doação para os vizinhos. Segundo o Mestre, se houver alguém precisando de plantas medicinais, prontamente fará chá, ou então, doará uma quantidade suficiente para fazer o chá, mais uma muda da planta para a pessoa cultivar em seu quintal. Isso corrobora com as reflexões de Amorozo (2002) sobre o papel desses espaços na retroalimentação das relações de vizinhança e parentesco.

Segundo o Mestre Tabaco, as hortas, as plantas medicinais e as ornamentais eram em maior quantidade, as espécies frutíferas eram mais viçosas, tudo por conta do carinho e cuidado que sua esposa dedicava ao espaço. O Mestre Tabaco ressaltou que sua falecida esposa era quem tinha mais cuidado com as vegetações do quintal, ele cuidava mais do Balneário e do viveiro de peixe.

Atualmente, para manter vivo tudo o que a esposa plantou e cuidou, o Mestre Tabaco está mais ativo em relação ao manejo e as práticas dessa parte do quintal. Segundo o Mestre, a manutenção desses espaços possui mais relevância quando se trata de melhorá-los para receber visitantes. Todas as estratégias e modificações pensadas para esses espaços estão relacionadas para melhor atender os turistas que ali frequentam.

O Mestre Tabaco teve sua participação no R.M. desde as suas primeiras versões, em meados de 2017. Antes do R.M, seu espaço possuía: uma casa de madeira, uma latrina de madeira (banheiro), áreas florestadas, um viveiro de peixe (tanque) com canoas, uma cacimba10, poucos quiosques11, uma área bem grande de plantação de açaí e algumas frutíferas, como pode-se ver nos croquis (Figura 4).

FIGURA 4
Croquis do espaço do Mestre Tabaco com o antes e depois da inserção ao R.M.
Croquis  do espaço do Mestre Tabaco com o antes e depois da inserção ao  R.M.
Fonte: Dados de campo, 2022.Legenda: A) croqui da configuração dos espaços dos anos anteriores à inserção do Ecomuseu da Amazônia; B) croqui da configuração atual dos espaços com a inserção no R.M.

Atualmente, seu espaço encontra-se com estruturas e espécies bem diversas, apresentando: casa e banheiro de alvenaria, frutíferas, um viveiro de peixe amplo, balneário, muitos quiosques, duas áreas de açaizais e um bananal. Esse espaço sofreu algumas transformações físicas no decorrer dos anos, justamente devido sua inserção ao projeto. Em seu viveiro de peixes, possui: tilápia, bacu, acará e acari. Esses peixes, segundo o Mestre Tabaco, são para consumo e doação para quem necessita na vizinhança. Uma peculiaridade identificada em relação ao manejo das espécies plantadas é que o Mestre Tabaco manejou propositalmente os buritizeiros aos arredores do viveiro de peixe, pois segundo ele, os frutos servem de alimento para os peixes.

O R.M. de 2019 veio para dar mais visibilidade aos trabalhos do Mestre Tabaco, intensificando ou acelerando as transformações desse espaço em um curto período. O quintal socioprodutivo do Mestre Tabaco é um espaço pensado como aqueles retratados por Gonçalves e Lucas (2017). É um local de encontros, de reuniões, de festas, de lazer. Ao mesmo tempo, guardam características tão importantes quantas aquelas encontradas em distintos quintais nas pesquisas de Amorozo (2002). É biodiverso, mantém viva as redes de relações entre vizinhos e parentes, fazendo disseminar germoplasma entre a população local.

Biblioteca tralhoto leitor: quintal ecopoético

O Mestre Apolo é natural de Recife/PE e se considera um “parábucano”. Veio a trabalho para Belém em 1989, onde estabeleceu moradia no bairro da Pedreira e, posteriormente, em meados de 1990, mudou-se para o bairro do Itaiteua, na Ilha de Caratateua, adquirindo uma área de 1050 m². Nessa área, construiu sua casa, onde também funciona uma biblioteca, e um barracão, no qual realiza diversas atividades. O restante do espaço reservou para transformar em um quintal.

O Mestre Apolo é cantor e compositor, contador de histórias, também é aposentado por invalidez, devido uma dificuldade que apresenta no pé, e recebe cerca de um salário-mínimo. Para complementar sua renda, vende livros, cordéis12 e ministra palestras em diversas escolas e locais público-privados. Os cordéis são ensinados para as crianças na forma de oficinas, propiciando que estas criem seus versos das toadas para as procissões que saem nas ruas com o Boi Misterioso.

Na Ilha, e mais precisamente em seu quintal, o Mestre começou a produzir formas de trabalhar com as crianças, na esfera social, cultural, educacional e meio ambiente, como bem colocam as autoras Almeida e Martins (2021), começou a produzir “formas de expressão cultural”. Um dos exemplos dessas formas é o Boi Misterioso de Itaiteua13 e o bloco de carnaval Parafuseta14, inspirado no carnaval de Olinda. Também vem trabalhando com aulas de reforço e incentivo à leitura através da Biblioteca Tralhoto Leitor. Todas as formas de trabalho e de expressão cultural nascem no seu quintal. Nesse espaço que acontecem os ensaios, apresentações, oficinas, entre outras. Ali, as crianças podem aprender e vivenciar as experiências proporcionadas pelo Mestre Apolo.

Mesmo que a pesquisa de Amorozo (2002) trate dos manejos dos ambientes naturais e dos processos ecológicos, sua pesquisa traz a noção que os quintais são locais perfeitos para que as crianças possam aprender diversas formas de conhecimento, e por mais que os objetivos sejam diferentes para se trabalhar com as crianças, a importância dos quintais enquanto espaço facilitador desses processos de aprendizado e de repasse de conhecimentos é a mesma, como pode-se perceber no quintal do Mestre Apolo em Caratateua.

Logo que chegou a seu local de moradia, o Mestre Apolo conta que o seu quintal parecia um deserto. Atualmente, possui diversas espécies frutíferas, medicinais e ornamentais plantadas no seu espaço. Além de três hortas em forma de caixas retangulares, uma suspensa e duas diretamente no chão e uma horta em pneu. As hortas, denominadas pelo Mestre Apolo de hortas comunitárias, foram construídas com o auxílio dos técnicos do Ecomuseu da Amazônia, especialmente para o R.M. Tal construção era um desejo antigo do Mestre Apolo, porque além de servir como fonte de alimento, serve também para fins pedagógicos envolvendo as crianças que ali frequentam. Outro fator que merece destaque é que o Mestre Apolo doa para a comunidade os vegetais provenientes da horta de seu quintal, isso, segundo ele, em uma tentativa de a comunidade se interessar mais pelas questões que envolvam o meio ambiente.

No quintal foram encontradas 16 espécies frutíferas, 10 medicinais e 12 hortaliças. Dentre essas, as principais espécies frutíferas encontradas no quintal foram: Açaí Euterpe oleraceae Mart, Acerola Malpighia gleba L., Banana Musa spp, Cupuaçu Theobroma grandiflorum (Willd. ex Spreng.) K.Schum, Fruta Pão Artocarpus altilis (Park.) Fosberg., Limão Citrus limon (L.) Burm. F., Mamão Carica papaya L., Manga Mangifera indica L. e Pupunha Bactris gasipaes Kunth. As principais medicinais foram:Anador Justicia pectoralis Jacq, Boldo Plectranthus barbatus Andrews, Erva Cidreira Lippia alba (Mill.) N. E. Br. e Ora-pro-nóbis Pereskia aculeata Mill. As principais hortaliças foram: Alface Lactuca sativa L., Batata doce Ipomoea batatas (L.) Lam, Camapu Physalis angulata L., Cariru Talinum fruticosum (L.) Juss, Cheiro Verde Coriandrum sativum L., Chicória Eryngium foetidum L., Espinafre Spinacia oleracea L., Jambu Acmella oleracea (Sw.) Cass e Tomate Lycopersicon esculentum Mill.

Antes de fazer parte do projeto R.M., seu espaço era diferente, contendo a seguinte configuração: uma casa de alvenaria, um barracão, uma fundição de construção de alvenaria, um poço e algumas frutíferas.

Atualmente em seu espaço socioprodutivo possui uma biblioteca integrada a casa, um barracão amplo, hortas comunitárias, uma pracinha em construção e um estúdio de música. O Mestre Apolo menciona que hoje em dia o seu quintal é um espaço adequado para receber visitas, para confraternizar e fazer festividades. Também, dentro do possível, está melhorando a estética do seu quintal, introduzindo novas espécies vegetais, construindo bancos para distribuir no seu espaço para as pessoas que frequentam sentarem e realocando objetos que ficavam entulhados perto dos muros que deixavam o quintal parecendo que estava sem cuidados. É possível perceber, ao observar os croquis (Figura 5), as transformações físicas que aconteceram no espaço desde seus primeiros contatos com o Ecomuseu da Amazônia, em 2016.

FIGURA 5
Croquis do espaço do Mestre Apolo com o antes e depois da inserção ao R.M.
Croquis  do espaço do Mestre Apolo com o antes e depois da inserção ao R.M.
Fonte: Dados de campo, 2022.Legenda: A) croqui da configuração dos espaços dos anos anteriores à inserção do Ecomuseu da Amazônia; B) croqui da configuração atual dos espaços com a inserção no R.M.

O Mestre Apolo, em 2019, em seu Ponto de Memória, comercializou seus livros e cordéis, também organizou um sarau, que é uma reunião com músicas populares, danças, conversas literárias, e uma “feirinha” juntamente com a comunidade, que tinha como produtos: doces e geleias, frutas in natura, polpas de frutas, galinhas caipiras, raízes de macaxeira, mudas de plantas, temperos e artesanatos. Pode-se perceber que as transformações que levaram a configuração atual do espaço estão diretamente ligadas com a inserção ao projeto R.M.

Vale mencionar que o entrevistado apresenta seu quintal como “ecopoético” justamente porque ali ele tem trocas de saberes, estimulando a comunidade a estar junto e partilhar,

Esse quintal tem essa importância de, dessa vivência com o verde, o interesse que a própria comunidade começa a despertar através desses encontros, o interesse de aprender e cultivar. O roteiro foi um dia maravilhoso, um dia que a gente participou a própria comunidade veio, nós cantamos, nós nos divertimos, teve contação de história, foi um dia maravilhoso de trocas e vivencia (informação verbal).

Para custear as benfeitorias, geralmente, utiliza os recursos provenientes da sua aposentadoria, das visitas de turistas, da venda de livros e cordéis ou de aprovação de projetos submetidos a editais direcionados ao fortalecimento da cultura. A FUNBOSQUE e o Ecomuseu da Amazônia colaboram para a manutenção e o bom funcionamento do seu espaço, por meio de seu corpo técnico que presta assistência a ele. Assim como a comunidade através dos serviços voluntários prestados ao Mestre Apolo.

Considerações finais

Os quintais socioprodutivos da Ilha de Caratateua, para além de produzir alimentos, são locais de troca de saberes, de acolhimento de diversas pessoas, de trabalhos sociais com as comunidades, de programações festivas, de histórias vivenciadas e contadas, de experiências e, sobretudo, é um local de vidas.

Na atualidade, as configurações e transformações dos quatro quintais analisados na Ilha de Caratateua estão entrelaçadas ao desenvolvimento do projeto “Roteiro de Memória”, que tem como base os princípios de gestão do turismo de base comunitária (TBC).

Os quatro quintais analisados sofreram algum tipo de transformação decorrente do projeto mencionado, seja nas estruturas físicas do espaço, seja nas redes de relações, ou em ambas. O quintal da profª Mary, por exemplo, antes do projeto, já recebia visitações, porém, com sua participação no projeto, passou a receber novos públicos e o quintal começou a ser transformado em um espaço totalmente diferente do que era em 2016; outro exemplo é o quintal do Mestre Apolo, que, segundo o entrevistado, antes do projeto era um “deserto” e, atualmente, se encontra todo arborizado e com hortas comunitárias. Ademais, o Mestre passou a se relacionar com diversos parceiros e voluntários, tecendo uma rede de relações que passou a nutrir e fazer frutificar o seu espaço.

Os quintais do Mestre Tabaco e da Mãe Sandra também sofreram transformações decorrentes de suas atividades no âmbito do projeto. O quintal do Mestre Tabaco ganhou a estrutura do balneário e o da Mãe Sandra um terreiro de umbanda bastante diversificado com espécies vegetais. As intervenções nesses quintais foram para melhorá-los e os espaços tiveram seu potencial econômico e cultural (inclusive religioso) ampliado.

No geral, o que se percebe é que os quintais analisados são espaços de produção de alimentos e de conservação da sociobiodiversidade. As espécies mais encontradas nos quatro quintais foram organizadas em três grupos: frutíferas, medicinais e hortaliças. Dentre as frutíferas, as mais frequentes foram: açaizeiro, bananeira, coqueiro, cupuaçuzeiro, goiabeira, limoeiro, mamoeiro, mangueira e pupunheira. Dentre as medicinais: anador, boldo, capim-santo, elixir paregórico, erva-cidreira, ora-pro-nóbis e pariri. Tais espécies são de significativo valor ambiental e sociocultural aos atores locais.

Entretanto, para além de espaços socioprodutivos e de diversidade ambiental, os quintais na Ilha de Caratateua, também são ecopoéticos. Tais quintais podem ser percebidos como espaços para reuniões de ação política, de resistência das famílias, atrelados às esferas sociais, culturais, educacionais, de lazer, de encontros, de histórias afetivas que remetem às lembranças de quando criança e, sobretudo, de troca de conhecimentos e saberes tradicionais, reforçando a ideia de serem ecopoéticos. Este conceito também é reconhecido por alguns dos entrevistados nos seus espaços, como é o caso do quintal do Mestre Apolo.

O projeto R.M., executado pelo Ecomuseu da Amazônia, em 2019/2020, em Caratateua, teve papel preponderante na mudança de percepção sobre esses quintais e na própria forma de utilizá-los e fazê-los florescer e frutificar. O projeto proporcionou novas experiências às pessoas da Ilha, experiências essas que lhes renderam oportunidades de se relacionar com outras informações, pessoas e conhecimentos.

Ressalta-se que a leitura da realidade desses atores sociais da Ilha de Caratateua foi facilitada por meio da base teórico-metodológica mobilizada nessa investigação. As técnicas de “observação participante” e “caminhada transversal” trouxeram oportunidades de conhecer-fazendo os espaços e as pessoas, seu potencial criativo e seus interesses. Como contributo analítico, essa pesquisa evidencia o termo ‘quintal ecopoético’, que, nesse artigo ganha materialidade como espaço produtivo, mas, sobretudo, como lócus de resiliência identitária, da cultura alimentar, literária, (e poética), musical e política de uma família amazônica em meio a contextos contemporâneos, que são de crises, socioeconômica, sanitária e ambiental.

Tendo em vista que este trabalho não esgota a leitura da complexidade dos quintais estudados, ele abre janelas de oportunidade, por exemplo, para a elaboração de pesquisas vinculadas aos tipos de produções que esses quintais poderiam oferecer às feiras locais, e os efeitos socioeconômicos da comercialização desses produtos, ou mesmo acerca das práticas que as famílias realizam nos quintais da Ilha, enfatizando a agrobiodiversidade de cada quintal, os saberes construídos, repassados intergeracionalmente e transformados, na operacionalização dessas práticas.

Contribuição de autoria

Escritura – revisión y ediciónRuan Rodrigo de Oliveira Pinheiro
Escritura – revisión y ediciónMonique Medeiros

Referencias

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Notas

1 É uma escola de referência em educação ambiental, atende alunos da educação infantil, ensino fundamental, educação de jovens, adultos e idosos (EJAI), ensino médio/técnico e mais recente, superior em geoprocessamento. Também possui diversos programas em articulação com a comunidade através dos projetos de extensão: Ecomuseu da Amazônia, horta do conhecimento, agente e monitores ambientais (AMA), casarão de cultura professor “Amarildo Mattos”, cine pesca, aquahorta, entre outros.
2 Os saberes e fazeres tradicionais são um conjunto de conhecimentos dos moradores mais antigos de uma comunidade, construídos empiricamente, por meio de erros e tentativas, a respeito do uso da biodiversidade, das práticas de manejo, dos seres vivos, do meio natural e da vida. Esses conhecimentos são repassados aos mais jovens, principalmente através da oralidade (Boscolo & Rocha, 2018; Da Hora et al, 2015).
3 É uma lei emergencial prevista em casos de calamidade pública, como a Covid-19, destinada ao setor da cultura, regulamentada no Estado do Pará pelo Decreto Estadual nº 1.025, de 4 de setembro de 2020.
4 Grupos performáticos constituídos por familiares nucleares e agregados, é uma tradição popular onde os brincantes dançam, cantam e interpretam. É uma expressão teatral e musical, para mais informações consultar (De Moura, 1997).
5 Para Cavalcante (2000, p.1022) “A brincadeira do boi remete sempre a uma forma de teatro popular: a encenação por pequenos grupos de brincantes de trama baseado na lenda da morte e ressurreição do precioso boi”.
6 “É uma manifestação cultural tradicional predominantemente paraense, produzida por comunidades tradicionais ribeirinhas e rurais que vivem na região amazônica” para mais esclarecimentos, consultar (Huertas, 2014, p. 82).
7 É a mulher responsável pelo culto dos orixás, que se dirige à divindade, recebendo as instruções que transmite aos fiéis (Azorli, 2016). A mãe de santo, também chamada de mãe de terreiro, é a líder espiritual de um terreiro e responsável pelo local do culto religioso, seja ele de Candomblé ou Umbanda.
8 O salário-mínimo, em 2022, ano no qual a pesquisa de campo foi realizada, era de R$ 1.212,00.
9 Segundo a Lei nº 11.326, DE 24 DE JULHO DE 2006 da Constituição Federal do Brasil. Considera agricultor familiar àquele que pratica atividades econômicas no meio rural e que atende alguns requisitos básicos, tais como: não possuir propriedade rural maior que 4 módulos fiscais; utilizar predominantemente mão de obra familiar nas atividades econômicas de seu estabelecimento; e possuir uma parte da renda familiar proveniente das atividades agropecuárias desenvolvidas no estabelecimento rural.
10 É um buraco ou cova aberta no chão de onde é possível brotar água e dele pode-se tomar banho, lavar roupa, louças e até mesmo beber água.
11 Q quiosque de madeira são uma construção planejada para áreas ao ar livre, que complementa os designs paisagísticos do local e pode desempenhar diversas funções, dependendo de como são configuradas.
12 São pequenos livretos da literatura popular que frequentemente são escritos com rimas, originados de relatos orais das experiências vividas, geralmente pelo autor da obra.
13 É um movimento cultural popular que faz referências ao Boi bumbá, narrando as aventuras do Mestre Apolo na Ilha de Caratateua.
14 Era um bloco de carnaval de rua que saia pelas vias do bairro de Itaiteua na Ilha de Caratateua e que usa temáticas referentes à cultura da Ilha. Atualmente se tornou uma escola de Samba.

Recepción: 13 Octubre 2023

Aprobación: 19 Abril 2024

Publicación: 01 Diciembre 2024

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